Os pais são os primeiros modelos de comportamento das crianças, para o bem ou para o mal. As crianças imitam os pais. Se o comportamento e a atitude dos pais para com a vida são corretos, funcionais e, acima de tudo, piedosos, isso é uma coisa boa. Mas todos nós temos comportamentos que preferimos que os nossos filhos não imitem. Por exemplo, de acordo com uma pesquisa do Grupo Barna, apenas 14 por cento dos americanos estão envolvidos na leitura diária e devoções da Bíblia em 2018.1 O planejamento e educação financeiros são muito irregulares; antes da COVID, quatro em cada dez famílias americanas não tinham recursos para lidar com uma emergência financeira.2 Oitenta por cento das famílias americanas estão endividadas.3 Coisas semelhantes podem ser ditas sobre poupança, planejamento de aposentadoria, e assim por diante.

Então, o que podemos ensinar aos nossos filhos sobre dinheiro e mordomia quando nós, como adultos, ainda temos dificuldades com isso? Poderíamos manter as coisas simples e dizer que cada dólar, dez centavos têm que ser devolvido a Deus, como diria minha mãe. Mas é assim tão simples? É certamente um bom começo, mas isso é tudo o que significa a Mordomia? E estamos fazendo isso nós mesmos?

COMO DIZEMOS E COMO FAZEMOS

A mordomia não é apenas dízimo e ofertas. Ela também inclui a gestão de nossos recursos financeiros de tal forma que temos dinheiro para dar a Deus e ainda cuidar de nossas próprias necessidades e compartilhar de forma altruísta com as outras pessoas. O que é necessário para alcançar essa condição, e como podemos ensinar e modelar tais comportamentos em nossas crianças ao contrário do que a cultura enfatiza sobre a gratificação imediata?

Primeiro, temos de fazer um balanço dos nossos próprios comportamentos. Por exemplo, será que compramos coisas que não precisamos e que talvez nem as usaremos? Será que nossas compras vão alimentar alguma futura coleta de lixo? O autocontrole e a habilidade de se antecipar não são lições fáceis para nenhum de nós, independente da idade. Eles são ainda mais difíceis quando a principal autoridade que figura na vida de uma criança não são eles mesmos vivendo à altura de boas práticas financeiras. Então, comece por aí.

Em seguida — agora que já resolvemos isso — temos de ensinar aos nossos filhos o verdadeiro valor do dinheiro. Embora o dinheiro não deva prevalecer sobre Deus, ele é importante. A nossa relação com ele revela muito sobre o nosso caráter e, na verdade, sobre o nosso relacionamento com Deus. Tudo o que possuímos pertence a Deus. Administrar a propriedade de Deus (a mordomia em seu sentido fundamental) é algo sério. Queremos tratar o nosso dinheiro com seriedade e também ensinar os nossos filhos a tratá-lo com seriedade.

Como podemos fazer isto? Primeiro, devemos ensinar como agir corretamente com o dinheiro, tanto verbalmente quanto pelo próprio exemplo. Podemos começar com despesas responsáveis. É importante que nós e os nossos filhos saibamos para onde vai o nosso dinheiro.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA ATRAVÉS DE SITUAÇÕES DA VIDA REAL

Permita que os seus filhos te vejam fazendo transações financeiras ao levá-los com você ao banco.

Leve seus filhos às compras com você. Deixe-os verem como e porque você compra determinadas coisas. Deixe-os gastar parte do dinheiro, permitindo-lhes escolher alguns dos itens. Recentemente, a mãe de uma criança de 6 anos partilhou uma experiência comigo. Ela ensina a sua filha sobre o valor do dinheiro e escolhas conscientes ao permitir que a criança escolha um item. Ela pode escolher apenas um item, independentemente de quantas lojas visitem no dia. Uma vez elas foram a três lojas, e a filha escolheu um item da segunda loja sem saber que haveria uma terceira opção. Uma vez no carro, a mãe percebeu que sua filha não estava feliz. Quando perguntada do porquê, sua filha disse: “Na próxima vez eu gostaria de saber com antecedência quantas opções de loja eu terei para escolher.” Pensamento crítico em ação!

Dê à criança três cofrinhos ou recipientes: um para poupança, outro para compartilhar e o terceiro para gastos. Cada vez que a criança receber dinheiro, você terá a oportunidade de ensiná-los sobre dízimos, ofertas e como dividir seu dinheiro.

Ajude-a a ganhar o seu próprio dinheiro. Elas podem coletar e vender recicláveis, ajudar com as vendas de coisas da família, ajudar a organizar o quintal de amigos ou vizinhos, ajudar colegas com dificuldades nos estudos, cuidar de animais de estimação etc. Desta forma poderão aprender sobre dar, gastar e economizar de uma forma muito próxima.

Aproveite as oportunidades de orientação na igreja para que as crianças estejam conscientes das necessidades da igreja e da comunidade. Isso também ajudará a prepará-las para situações de liderança.

ENSINANDO OS PRINCÍPIOS FINANCEIROS

Quando a criança tiver idade suficiente para ter o próprio dinheiro, ensine-a sobre orçamentos. Garanta que elas tenham um plano para seu uso e que se atenham a isso. Uma boa prática para somar à ideia de orçamento pode ser dar a cada moeda um nome. Além disso, não tenha medo de compartilhar tanto boas quanto más experiências que você teve em relação ao dinheiro.

Crianças são crianças, talvez elas possam não compreender o valor de uma recompensa diferida e controle de impulsos. Possivelmente todos nós já ouvimos falar da experiência em que pesquisadores deixam uma criança numa sala com um pedaço de doce em cima da mesa e dizem a ela que poderá ter outro pedaço se puderem abster-se de comer o pedaço que está na mesa. Poucas crianças passam nesse teste, e é provável que as suas também não passassem. Contudo, elas conseguem refletir sobre as consequências das decisões, mesmo com pouca idade. Explique como as más decisões financeiras causam problemas de todos os tipos: saúde, emocional, até espiritual. Também comunique às crianças que queremos que eles cresçam e vivam vidas prósperas tão livres quanto possível de estresse e ansiedade.

À medida que as crianças se tornam mais maduras, podemos ensiná-las conceitos cada vez mais complexos: dívida e seus usos adequados, por exemplo. Certamente as ensinamos que a dívida deve ser evitada sempre que possível, mas há momentos em que pode ser necessário pedir dinheiro emprestado ou usar um cartão de crédito. Poucas casas seriam vendidas se os compradores não pudessem obter hipotecas, por exemplo. Devemos ensiná-las que há maneiras responsáveis e mesmo piedosas de fazer uso do crédito e da dívida sem medo ou culpa. Enfatizar que a dívida responsável envolve o caminho para sair da dívida o mais rápido possível. O que isso significa na prática é que um cartão de crédito não é dinheiro livre. É preciso pagar todos os meses. A lição de Provérbios 22:7 ensina: não te tornes escravo da dívida. Em última análise e de forma ideal, Deus quer que nos libertemos da dívida para que possamos ajudar os outros e dar à Sua missão.

CRIANDO FILHOS GENEROSOS

Mesmo sabendo que nosso dinheiro pertence a Deus, às vezes nos esquecemos. Para evitar isso, familiarize seus filhos desde cedo na vida com as alegrias da generosidade para com Deus e outros.

Diga às crianças que quando damos ofertas e doações, ajudamos a expandir o reino de Deus e também temos interações gratificantes com os outros em nossa comunidade. Estas interações tornam mais fácil para nós espalhar o evangelho. Por exemplo, uma criança da nossa igreja começou recentemente a pintar ornamentos de cristal para angariar dinheiro para a adoção temporária de crianças na região. Enquanto escrevo essa mensagem, ela está perto de alcançar $ 1.000 dólares!

Crie oportunidades para as crianças aprenderem a ser bons mordomos. Durante a época natalina, nossa igreja adotou uma escola primária pública da região. Demos presentes aos alunos e aos seus irmãos. Em resposta, recebemos um grande envelope cheio de bilhetes de agradecimento, e até mesmo uma tela que uma criança pintou de nossa igreja. Duas cartas chamaram minha atenção: ambos os escritores disseram que quando crescerem, eles também darão presentes aos outros como nós fizemos. Os exemplos podem ser poderosos!

CONCLUSÃO

Nós não nascemos entendendo os conceitos financeiros básicos, e certamente generosidade e a mordomia não vêm naturalmente para nós. Até os adultos possuem dificuldades com isso. Pode-se presumir que seus pais também tiveram suas dificuldades, e passaram comportamentos disfuncionais em relação ao dinheiro para os filhos. Há alguns anos, quando trabalhava num banco, um homem veio me perguntar se eu podia ajudá-lo a conferir seu talão de cheques. Ele me entregou. Percebi que ele ainda tinha muitos cheques sobrando, mas ainda assim, de alguma forma, sua conta estava no vermelho. Primeiro pensei que era uma piada, mas logo percebi o quão sério ele estava. Nunca me esqueci desta lição sobre a suprema importância da gestão financeira básica.

Acima de tudo, é nossa responsabilidade ensinar as crianças a amar a Jesus com suas finanças. Ensine-as a dividir alegremente não só o dinheiro, mas também o Seu amor através de palavras e ações. Afinal, Deus ama um doador alegre (2 Co. 9:6, 7). £

  1. State of the Bible, 2018,” acessado em 15 de março de 2021, https://www.barna.com/research/state-of-the-bible-...;
  2. Angelita Williams, “New Research: Four in 10 American Households Had Difficulty Withstanding a Financial Crisis Before COVID-19,” acessado em 15 de março de 2021, https://www.finra.org/media-center/ newsreleases/2021/new-research-four-10-american-households-had-difficulty-withstanding.


Hazel Marroquin

Hazel Marroquin é pastora nos Ministérios da Criança e da Família em Sligo Church, Maryland, EstadosUni dos. E la é graduada em Administração de Empresas e Contabilidade, possui um diploma em Teologia pela Southwestern Adventist University, e é mestranda em Ministério Pastoral pelo Seminário Adventista Andrews.