Por que eu aumentei minha porcentagem prometida?

LUTANDO PARA CONFIAR

Depois de uma luta pessoal, finalmente decidi aumentar a porcentagem da minha promessa1, e não tenho orgulho disto. Para começar, por que tem que ser uma luta?

Como ministro, eu deveria ser um exemplo e dar por puro amor a Deus e Sua obra - mas a verdade não é tão bela assim.

Na verdade, eu ainda luto com uma força de inclinação extremamente forte para o materialismo, o consumismo e o amor deste mundo. Para mim, o que é tangível é muito mais atraente do que o que é intangível, o que dificulta o desenvolvimento da confiança e a fé em Deus. A história de Abraão de sacrificar Isaque no altar mostra quão doloroso pode ser desenvolver a confiança em Deus, mas também quanto o Senhor valoriza esse crescimento: “Agora eu sei que você teme Deus, já que você não me negou seu filho, seu único filho” (Gênesis 22:12). Certamente, os cristãos devem estar prontos para sacrificar tudo, mas parece que a experiência de abnegação é especialmente dolorosa para aqueles, como eu, que têm uma forte propensão para o mundanismo.

Eu me tornei um Promisor2 pela primeira vez aos 11 anos, respondendo ao que eu acreditava ser um chamado de Deus através do meu pastor da igreja, Josino Campos, no Brasil. Essa porcentagem (muito pequena) dobrou quando o Senhor me deu o meu primeiro emprego e depois aumentou um pouco novamente (para 5%) quando me casei com Mari e comecei a trabalhar como ministro. Dez anos depois, após um poderoso ato de Deus (Ele quase literalmente libertou me da sepultura), minha esposa e eu nos sentimos compelidos a dobrar essa porcentagem - mesmo que ela tenha perdido o emprego porque nós acabáramos de ser chamados para um campo diferente. Naquela época, na minha nova posição como Diretor de Mordomia da associação de Santa Catarina (Brasil), senti que era meu dever convidar anualmente todos os pastores a sacrificarem algo se tornando Promissores ou aumentando suas porcentagens da Promessa. Mas eu não deveria, então também aumentar minha porcentagem cada vez mais? Pedro sugere que precisamos ser “exemplos do rebanho”, modelando aquilo que desejamos ver naqueles que lideramos (I Ped. 5:2-4, NVKJ, itálicos acrescentados).

Assim, em diferentes ocasiões, a porcentagem de minha promessa foi novamente aumentada.

Finalmente, em 2003, enquanto trabalhava em outra Associação, minha esposa e eu fomos impressionados a aumentar nossa promessa, que representou uma porcentagem muito desafiadora de nossa receita. Isto exigiria um milagre para sobrevivermos todos os meses até o próximo salário. Mas minha família experimentou milagres surpreendentes quando o Senhor cuidou de nós de maneiras notáveis! Na realidade, eu acredito que experiências como essa exercem uma profunda influência sobre a decisão de nossos filhos por Cristo, porque eles podem ver Deus e a oração de maneiras muito reais. Por outro lado, se não doarmos, ou se ainda nos restar muito, as chances de promover uma falta de compromisso em nossos filhos será maior

No final de 2015, o chamado para mudar para os Estados Unidos trouxe alguns grandes desafios econômicos. Primeiro, Mari perdeu o trabalho novamente. Então, logo após vendermos tudo, e antes de trocar nosso dinheiro por dólares americanos, a moeda brasileira perdeu uma parte significativa do seu valor. Além disso, nossas duas filhas nos disseram que as duas pretendiam se casar naquele mesmo ano, e decidimos dar ajuda financeira para os casamentos e para elas começarem a sua vida de casadas.

Então, com o dinheiro que sobrou, parecia impossível para nós comprar uma casa, um carro e tudo mais que precisaríamos no novo país. Além disso, como enfrentaríamos outras necessidades, importantes, como a construção de um fundo de emergência para a aposentadoria ou para sustentar a Mari, no caso de eu falecer? Naquela época, parecia que o medo era mais forte que a confiança, porque eu decidi diminuir a porcentagem da minha promessa a um terço do que eu estava dando. (Eu ainda me pergunto se falta de fé às vezes não se disfarça como prudência, levando-nos a perder algumas preciosas experiências de confiança que poderíamos de outra maneira ter?). Mas apenas três meses depois, o cuidado de Deus era tão evidente que decidimos aumentar essa porcentagem novamente, agora para dois terços do que era anteriormente. Mesmo que eu me sentisse muito melhor então, minha impressão era que eu estava algumas vezes vivendo mais pela vista do que pela fé. Eu não estava deixando de aprender como confiar mais completamente no Senhor, depender mais sobre Ele, de orar mais? No meu caso, porque eu sou muito materialista, consumista e apaixonado por este mundo, o quanto mais dinheiro tenho, menos sinto necessidade de orar.

Quando dar é baseado em um chamado de Deus e não em um desejo egoísta de ser reconhecido como filantropo (é um processo totalmente diferente de dar) ele se torna um humilde exercício de confiança em Deus e um crescente relacionamento com ele. Às vezes, ao permitir mais lutas, o Senhor está bondosamente nos convidando a orar mais. Mas outras vezes, esse mesmo convite para orar mais pode vir pelo incentivo de doar mais. Se você dá mais, você tem menos e você precisa orar mais. Se você ora mais, você se preocupa menos, confia mais, vive pela fé e tem os olhos desviados deste mundo e fixos nas realidades vindouras (Col. 3:1-3).

E isso não significa que aumentando a porcentagem da sua promessa você necessariamente diminuirá seu padrão de vida. Mas significa que você terá que aumentar seu padrão de oração. Ao mesmo tempo, isso vai exigir que você aprenda de Jesus como encontrar o real deleite em um estilo de vida mais simples, que é uma habilidade muito útil nesses tempos finais com novas realidades econômicas. Você também precisará orar pedindo sabedoria sobre como usar os recursos restantes de maneira mais eficiente. Você precisará orar por um coração puro, a fim de manter aberto o canal para receber essa orientação. E você precisará orar para encontrar os mesmos produtos e serviços por um preço melhor (Normalmente em algum lugar existe um preço melhor).

É com essa experiência em vista que Ellen White sugere que “todo mordomo fiel” deveria ser mais ávido de “ampliar a proporção de suas doações ... do que diminuir suas ofertas para o pouco ou mínimo3”. Esta citação não está dizendo que é pecado diminuir a proporção (ou porcentagem) do que estamos dando, mas que nosso objetivo deve ser, ao contrário, aumentá-lo, porque também aumentará nossa experiência de fé. Por outro lado, ela também diz que, quando retemos mais, não temos necessariamente mais: “Eles pensam que é lucro roubar a Deus retendo tudo, ou uma proporção egoísta de Seus dons ... Mas eles se defrontam com perda em vez de ganho. . . Sua conduta resulta na retirada de misericórdias e bênçãos4”. Essas duas citações de Ellen G. White estavam constantemente me lembrando sobre a importância de “aumentar a proporção” como um ato de fé.

Finalmente, no ano passado, em 2019, propus um acordocom o Senhor, incluindo três “Ses” como isenções de responsabilidade.Eu aumentaria novamente a percentagem da minha promessa, na mesma proporção em que foi antes do final de 2015, “se” Ele fornecesse uma renda para Mari, “se” sua renda fosse pelo menos uma quantia específica (o que era muito improvável que acontecesse) e “se” Mari concordasse em seguir naquela direção (eu sempre a incluo em tais decisões). Afinal, escolhendo essa porcentagem, meu salário cobriria apenas o dízimo, a promessa, financiamento, uma parcela do carro, seguros e impostos. Todo o resto seria inevitavelmente parte dela. Depois de um tempo, o Senhor cumpriu o primeiro “se” dando a ela um trabalho que ela ama. Mas como o segundo “se” não foi cumprido (sua renda era muito menor do que a que propus), eu pensei por um tempo que fui liberado do meu acordo. Mas então foi como se uma voz doce estivesse constantemente me convidando: “Você não acredita que, mesmo com a menor renda de sua esposa, eu sou capaz de suprir todas as suas necessidades em Cristo Jesus?” (Filipenses 4:19). Eu era incapaz de evitar ouvir aquela voz!

Então, depois de lutar por três meses contra esse pensamento, eu finalmente decidi conversar com Mari sobre o plano. Parte de mim estava esperando que sua rejeição da idéia trouxesse meus pés de volta para um terreno “mais seguro”. Masela concordou instantaneamente com o plano, então fiquei sem outra escolha senão voltar a aquele percentual desafiador em vigor antes do final de 2015. Quando o próximo salário chegoue eu comecei a cumprir o voto, houve uma paz de espírito indescritível!

Ainda não sei o fim desta história - é uma experiência em andamento. O que o Senhor nos levará a fazer com nossas porcentagens se no futuro, por exemplo, Mari não for mais capaz de manter esse emprego? Eu não sei. Mas até agora eu não estou olhando para trás. Foi um privilégio viver nesse tipo diferente de estabilidade, uma que não depende do que é visto, mas de realidades invisíveis.

Agora estou orando por você. Não está o Senhor chamando você para também se tornar Promissor, ou simplesmente para aumentar sua porcentagem prometida se você já é um promissor? Não é um chamado para você confiar mais e orar mais nestes tempos difíceis, para se desligar deste mundo e olhar para o mundo de cima? Ele não é capaz de suprir tudo o que você precisa? Aqui está uma promessa precedida por duas condições: “Se os homens amarem e obedecerem a Deus e fizerem sua parte, Deus proverá todos as suas necessidades5”. Cumprir as condições, é uma promessa toda inclusiva! Depois, há o convite de David: “ Provem e vejam como o SENHOR é bom. Como é feliz o homem que nele se refugia! Temam ao SENHOR, vocês que são os seus santos, pois nada falta aos que o temem. Os leões podem passar necessidade e fome, mas os que buscam o SENHOR de nada têm falta” (Salm.34: 8-10, NVI). Olhe para a frente e para acima! Você é o abençoado do senhor!

1 Promessa é um nome usado para identificar o ofertar sistemático e regular,

proposto a Deus como porcentagem (este é o Sistema) de todo rendimento

ou aumento (esta é a regularidade). Leia mais em Faiock Bomfim, Marcos (2020,

January-March), “O que é Promessa”? Mordomo Dinâmico, Vol. 23. N.40.1, pág. 12,

13. Encontre o formato eletrônico do artigo aqui: https://stewardship. adventist.

org/what-is-promise.

2 Alguém que propôs dar a Deus uma porcentagem de todo rendimento ou

aumento como uma oferta sistemática e regular. Veja a nota final anterior.

3 Ellen G. White, Conselhos sobre Mordomia, pág. 200 (itálico acrescentado).

4 Ibid., pág. 90 (itálico acrescentado).

5 Ibid., p. 227.

Marcos F. Bomfim

Pastor Marcos F. Bomfim é o diretor do Ministério de Mordomia na Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, em Silver Spring, Maryland, USA..