uma ferramenta divina para a educação de nossas crianças

MORDOMIA

Pretendo conectar dois conceitos que não costumam ser relacionados. Estou falando de mordomia e educação de nossas crianças. Qual é o propósito da mordomia cristã? Que papel ele desempenha na instrução de nossas crianças?

Quando analisados em profundidade, a mordomia e a educação estão mais relacionadas do que pensamos. O potencial da mordomia para informar e desenvolver os valores de nossas crianças - um dos principais objetivos do processo educativo - e dar orientação e estrutura às suas vidas tem sido subutilizado. A mordomia desempenha uma função comparável à da medula espinhal em nossos corpos. Ela dá direção à nossa vida e é nosso alicerce.

EDUCAÇÃO, MORDOMIA E REDENÇÃO

Ellen White, cofundadora da igreja, conectou a educação à redenção ao afirmar que: “No mais alto sentido, a obra da educação e da redenção são uma; pois, na educação, como na redenção.”1 Ela estava absolutamente certa, já que o alicerce de ambas as ciências - educação e redenção - é Jesus. Portanto, educar é redimir, e “O verdadeiro objetivo da educação é restaurar a imagem de Deus na alma.”2

É vital manter essa ampla visão. A abordagem unidimensional que vê a educação meramente como a aquisição de conhecimento científico acaba por desprezar seu sentido original.

Do mesmo modo, temos de promover uma visão integral da mordomia e evitar uma abordagem redutora pouco saudável. Muitos crentes associam a mordomia apenas com o retorno de dízimos e ofertas. Realmente estão relacionados, mas a mordomia é muito mais do que o retorno fiel de dízimos e ofertas, o uso inteligente do tempo e talentos, ou o cuidado com nossos corpos. Embora todos esses elementos sejam parte fundamental da mordomia, eles não são a mordomia em si mesmos.

Refletindo sobre a relação de mordomia e dinheiro, LeRoy Edwin Froom declara:

Esse poderoso princípio não começa nem termina com dinheiro. O dízimo diz respeito à mordomia. Mas a mordomia em seus aspectos mais amplos é o princípio inclusivo de toda a vida. Não é uma teoria nem uma filosofia, mas sim um programa de trabalho. É na verdade a lei cristã da vida. Ela forma a avaliação cristã do privilégio, oportunidade, poder e talento. É necessária para uma compreensão adequada da vida, e essencial para uma experiência religiosa verdadeira e vital. Não é apenas uma questão de consentimento mental, mas é um ato de vontade e uma transação definitiva e decisiva em todo o perímetro da vida.3

Esse mesmo autor indica que “pode-se pagar dízimo e ainda estar longe do Espírito da Mordomia.”4 Alguns dos filantropos mais conhecidos do século XXI são agnósticos ou ateus. Seu senso de generosidade é admirável, mas eles não são suficientes como modelos para os aspirantes a mordomos cristãos.

Um dos maiores perigos de uma abordagem reducionista da mordomia é quando nossas crianças são excluídas. Para alcançar o potencial educacional da formação em mordomia, precisamos de uma abordagem integral. A ideia que quero salientar é que a mordomia toca todos os aspectos de nossas vidas. Mordomia é redenção, e ela também busca restaurar a imagem de Deus no mordomo.

MORDOMIA E VISÃO DE MUNDO

Uma visão abrangente da mordomia sugere que seu objetivo é nos ajudar a desenvolver uma visão de mundo baseada em valores bíblicos. Uma visão de mundo é uma filosofia particular da vida. “Toda a gente tem uma visão do mundo. Sempre que qualquer um de nós pensa sobre qualquer coisa - desde um pensamento casual (Onde deixei meu relógio?) a uma pergunta profunda (Quem sou eu?) - estamos operando dentro dessa linha. Na verdade, é apenas a suposição de uma visão de mundo - por mais básica ou simples - que nos permite pensar em tudo.”5

Uma filosofia de vida para alguns poderia ser: E”sta vida é tudo; não existirá nada além dela.” Alguém com essa mentalidade poderia viver assim: “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (1 Co. 15:32, NVI). Outra filosofia de vida muito diferente poderia ser: “Esta vida não é o fim; haverá um julgamento final” e “Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo” (2 Co. 5: 10, NVI).

De acordo com James W. Sire, as sete questões fundamentais abordadas por qualquer visão de mundo são: qual é a realidade principal - o realmente real? Qual é a natureza da realidade externa, ou seja, do mundo à nossa volta? O que é um ser humano? O que acontece a uma pessoa no momento da morte? Porque é possível saber alguma coisa, no fim das contas? Como sabemos o que é certo e errado? Qual é o significado da história humana? 6

O mais interessante é que todas essas questões abordadas pelo processo educacional encontram uma resposta perfeita na mordomia. Tudo começa por reconhecer o Criador e reconhecer a Sua relação com a criatura. Essa é a tarefa inicial do livro de Gênesis.

MORDOMIA E VALORES

Não há nada como a Bíblia para educar em valores (2 Tm. 3:15-17), e nada como a mordomia para colocar esses valores em ação. Especialistas no comportamento humano concordam que os primeiros sete anos de vida são os principais na formação do caráter. Valores como a obediência, o respeito, a honestidade, a bondade, a generosidade, a regularidade, a perseverança, a diligência e muitos outros já foram integrados nessa idade.

Especialistas da Universidade da Califórnia Riverside (UCR) observaram que:

O caráter e a personalidade de uma pessoa são estabelecidos em grande parte quando ainda são muito jovens. Os traços que irão definir esse indivíduo ao longo de sua vida podem ser claramente identificados quando ele ou ela tiver em torno dos 7 anos de idade. Numa nova investigação, os cientistas mostram que, quando começam a ir à escola, as crianças já exibem os traços de personalidade que permanecerão com elas ao longo de suas vidas.7

É axiomático que a melhor educação é aquela que fornece o preceito e o exemplo, e a mordomia é justamente estruturada nesse sentido. Como já dito, a mordomia cristã é a espinha dorsal da vida cristã. Qualquer um pode alegar amar a Deus, mas ignorar Sua Lei; no entanto, a mordomia permite apoiar com ações o que você professa.

Imagine um pai, mãe, pastor(a) ou professor(a) que deseje educar seus pequenos cordeiros em valores baseados na mordomia cristã. Logo perceberiam que é a metanarrativa perfeita para ancorar todos os princípios necessários para essa vida e para a vida vindoura.

Esse primeiro princípio informa a criança de onde ela vem e esclarece quem ela é, tornando-se assim o ponto de partida para outros valores.

Uma vez que as crianças reconhecem que são criaturas de Deus feitas à Sua imagem, elas podem entender claramente por que um código de ética congruente com a suas origens é esperado delas. A partir dessa grande ideia abrangente sobre a mordomia cristã, o mentor integrará todos os outros valores. Será, portanto, fácil ensinar as crianças a reconhecer os direitos de Deus sobre elas. A obediência terá uma nova dimensão. Devolver o dízimo e as ofertas, bem como praticar a generosidade com os outros, fará mais sentido para você.

Quando olhamos para o caso de José, por exemplo, e como os princípios da excelência (Gn. 39:5, 6), fidelidade (versículos 7-12), planejamento (Gn. 41:46), economia (versículos 19, 56, 57) e outros marcaram a sua vida como um mordomo, percebemos que a mordomia tem muito a contribuir para o desenvolvimento humano de todos nós e, especialmente, de nossas crianças. £

  1. Ellen G. White, Educação (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2008), p. 30.
  2. Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2005), vol. 1, p. 359
  3. LeRoy E. Froom, Stewardship in Its Larger Aspects (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1928), p. 2.
  4. Ibid.
  5. James W. Sire, The Universe Next Door, 5th ed. (England: Inter-Varsity Press, 2004), p. 19.
  6. James W. Sire, The Universe Next Door, 5th ed., (England: Inter-Varsity Press, 2004), pp. 22, 23.
  7. Tudor Vieru, “Our Personality Is Fully Developed By the Age of 7,” softpedia, August 6, 2010; https:// news.softpedia.com/news/Our-Personality-Is-Fully- Developed-By-the-Age-of-7-151093.shtml.


Manuel Sánchez

Manuel Sánchez é o antigo diretor de Mordomia Cristã da Associação Dominicana Central e autor de Mayordomía es Salvación (Mordomia é Salvação). Ele tem servido como diretor dos Ministérios Pessoais da Associação da Grande Nova York desde 2014.