Uma vez que os membros da igreja já devolvem o dízimo, também precisam dar ofertas? Na última edição do Mordomo Dinâmico,[1] na primeira de uma série de três partes, exploramos algumas razões pelas quais dar ofertas regulares é tão importante quanto devolver o dízimo. Entre outras razões, (1) Deus requer e espera que demos ofertas, assim como ocorre com o dízimo (Ml 3:8); (2) as ofertas regulares são uma expressão de reconhecimento e gratidão, como é o caso do dízimo (1Cr 29:14); e (3) as ofertas podem realizar o que o dízimo não pode (os fundos do dízimo podem ser usados somente de acordo com as orientações divinas, e de forma muito restrita). Além de tudo isso, as ofertas exigem um processo de decisão mais complexo do que o dízimo.

Ofertas e a Casa do Tesouro

Outra questão importante relacionada com as ofertas é para onde trazer e como distribuir as ofertas regulares e sistemáticas, às quais chamamos de “pacto”.[2] Você encontrará abaixo algumas razões pelas quais a comissão dada por Jesus em Atos 1:8 pode ser cumprida de maneira mais eficiente se levarmos nossa oferta regular e sistemática (“pacto”) à casa do Tesouro e se a distribuirmos de acordo com as diretrizes de Jesus encontradas nessa comissão.

  1. A Bíblia sugere essa prática. A Bíblia é muito clara quanto à importância de levarmos o dízimo à casa do Tesouro. A propósito, o dízimo só será dízimo se forem observados os seguintes três itens: (1) ser devolvido na porcentagem certa (10% da renda); (2) ser levado ao lugar certo (a casa do Tesouro); e (3) ser aplicado conforme prescrito por Deus (para o sustento daqueles que são designados e credenciados pela igreja para pregar o evangelho). Não é por acaso que as ofertas também estejam incluídas nesses mesmos contextos em que é ordenado que o dízimo seja levado à casa do Tesouro.[3]
  2. A comissão missionária mundial de Deus para o fim dos tempos exige isso. De acordo com Jesus, o derradeiro sinal que precederá o fim é que “será pregado este evangelho do Reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim.” (Mt 24:14).
  3. Como as ofertas cobrem aproximadamente um terço das despesas da obra missionária da igreja, a grande comissão de Jesus só poderá ser cumprida se seguirmos o exemplo da igreja apostólica, trazendo todos os nossos recursos para um fundo comum (ver, por exemplo, At 2:44, 45; 4:32, 34-37; 5:1-11). Depois, devemos decidir como utilizar esses fundos, não de acordo com nosso critério pessoal, mas segundo uma decisão coletiva.
  4. Figurativamente, a Bíblia diz que a igreja é o corpo de Cristo. Quando você se alimenta, há apenas um lugar por onde a comida entra para nutrir todo o corpo. Ao invés de alimentar os órgãos e membros do corpo individualmente, você coloca todos os alimentos em um lugar comum – a boca –, e a partir daí eles serão distribuídos de forma equitativa para nutrir todo o corpo.
  5. Quando um país está em guerra, o exército não deve ser abastecido de acordo com o critério pessoal de cada cidadão. Se alguém doa para a despensa do quartel porque é primo do cozinheiro, e o outro dá dinheiro para a aquisição de botas confortáveis ​​porque o filho soldado tem calos nos pés, é improvável que essa guerra seja vencida. Se uma nação espera vencer a guerra, é o governo quem deve arrecadar cuidadosamente todos os recursos e depois distribuí-los para que o exército possa ser abastecido de maneira equitativa e regular.
  6. Devemos considerar que a nossa guerra é de menor importância e que o nosso exército espiritual deve ser menos organizado que os seculares? Não permitamos que os filhos deste mundo sejam uma geração mais astuta do que a dos filhos da luz (Lc 16:8)!
  7. Há sucesso na multidão de conselheiros. O princípio da casa do Tesouro pressupõe que, em última análise, outros decidirão como o “meu” “pacto”, isto é, minhas ofertas regulares e sistemáticas, será distribuído e gasto. Devo confessar que essa ideia não me agrada, porque sinto que perco um pouco do poder e da capacidade de agir. Isso me aflige, porque faço parte de uma geração individualista, que quer sempre estar no controle.
  8. No entanto, a batalha estará perdida se cada soldado guerrear sozinho, tendo como base uma estratégia individual e idiossincrática. “Sem conselhos
  9. os projetos fracassam”, diz Salomão, “mas com muitos conselheiros

há sucesso” (Pv 15:22).

Na Igreja Adventista, portanto, nenhum indivíduo ou instituição deve decidir sozinho sobre planos, estratégias ou finanças. O poder de decisão é compartilhado por meio de comissões compostas por líderes indicados pelo sistema representativo, por períodos de tempo pré-determinados. Ninguém é dono da igreja nem ficará rico trabalhando para ela. Líderes, pastores e missionários têm uma renda limitada. Se houver mais fundos disponíveis, a igreja sempre usará esses fundos extras para levar adiante a missão da igreja, em vez de aumentar os salários dos obreiros.

Esse conceito de “decisões compartilhadas” está enraizado em nossa teologia. Por exemplo, os anjos descritos em Apocalipse 14 representam um movimento com implicações mundiais, o que requer um exército bem organizado, coeso em suas mensagens, estratégias, iniciativas e distribuição de recursos. Isso se opõe à ideia de indivíduos dispersos, vagando por aí, tentando fazer “cada um segundo melhor lhe parece” (Dt 12:8).

É por isso que eu preciso deixar de lado a desconfiança, os pensamentos de supremacia, a vaidade, o orgulho, a arrogância e o egoísmo, permitindo que Deus opere mediante o Seu corpo – a igreja – se eu quiser fazer parte deste movimento global que proclama a última mensagem para um mundo que perece. Abdicar do controle da “minha” oferta é um exercício necessário de humildade o qual exigirá abnegação, submissão mútua e confiança. Tal exercício produzirá crescimento espiritual por meio da unidade do Espírito.

Ao colocar o eu de lado, reconheço que a minha visão é muito limitada e o meu coração, enganoso (Jr 17:9). Preciso confiar que Deus está liderando o movimento como um todo. Meus irmãos e irmãs ao redor do mundo também têm o Espírito Santo a guiá-los e, como eu, também estão dispostos a fazer o melhor para cumprir a grande comissão dada por Jesus.

Isso não significa que não podemos apoiar outros projetos missionários pessoais ou coletivos, alguns deles iniciados por membros da igreja bem-intencionados. Significa, em vez disso, que o nosso apoio a esforços missionários estranhos à estrutura da igreja nunca deve suplantar o panorama geral, nem tomar o lugar daquilo que fazemos juntos como um movimento mundial. Esse apoio deve ser considerado como uma segunda milha, algo além e acima do compromisso que temos com aquilo que fazemos juntos como um corpo, com implicações locais, regionais e globais, pois não há outra maneira de cumprir a comissão de Jesus. Juntos somos mais fortes, podemos fazer mais, mais rápido e chegar mais longe!

  1. Os fundos são distribuídos para alcançar todo o mundo. Outra razão pela qual as ofertas regulares devem ser trazidas à casa do Tesouro pode ser encontrada na mensagem de despedida de Jesus aos discípulos, mencionada acima. Nesse discurso Ele fez uma promessa com um propósito: “Mas vocês receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito Santo [essa é a promessa], e serão Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra [esse é o propósito]” (At 1:8).
  2. É interessante notar que a promessa do derramamento do Espírito Santo é precedida pela informação de que os discípulos “estavam reunidos” (v. 6). Isso foi crucial para que o propósito de Jesus fosse cumprido, isto é, que eles fossem testemunhas nos três segmentos geográficos mencionados pelo Mestre: (1) em Jerusalém (local), e (2) em toda a Judéia e Samaria (regional), e (3) até os confins da Terra (global).

Se cada um fosse sozinho, como poderiam ser missiologicamente relevantes, ao mesmo tempo, nesses três segmentos geográficos? Dois elementos mostram ser imperativos para o cumprimento de uma missão mundial: (1) receber o derramamento do Espírito Santo e (2) estar unidos (Lc 24:49; At 1:4, 6, 8) – espiritualmente, emocionalmente, organizacionalmente e financeiramente unidos!

Como nosso esforço missionário deve atingir simultaneamente esses três segmentos geográficos, é lógico esperar que os dízimos e as ofertas regulares sejam coletados em um só lugar e, de lá, distribuídos equitativamente para todos os ministérios, projetos e regiões geográficas. Mas isso só será possível se entendermos a enormidade da tarefa que está diante de nós e juntarmos todos os nossos recursos para que sejam distribuídos de forma equitativa (como sugerido pelo Plano de Oferta Combinada, por exemplo). Por outro lado, se eu destinar todas as minhas ofertas a um só projeto, ministério ou região, de acordo com meu critério, todos os outros podem acabar sem apoio e a obra será atrasada!

O que Paulo disse sobre os dons espirituais pode ser aplicado corretamente à maneira como fazemos missão. Porque “Deus não é Deus de desordem”, disse o apóstolo em 1 Coríntios 14, e “tudo deve ser feito com decência e ordem” (v. 33, 40, NVI). Que o Senhor nos conceda um coração altruísta e humilde que nos leve a trabalhar juntos em harmonia e confiança mútua, sob a orientação do Espírito.

LEGENDAS

Quando você se alimenta, há apenas um lugar por onde a comida entra para nutrir todo o corpo.

Nosso apoio a esforços missionários estranhos à estrutura da igreja nunca deve suplantar o panorama geral nem tomar o lugar daquilo que fazemos juntos como um movimento mundial.


[1] Marcos F. Bomfim, “O Tipo de Oferta Mais Necessário em uma Igreja com uma Missão Mundial”, Parte 1, Mordomo Dinâmico 24, No. 4 (Outubro – Dezembro 2021, https://www.adventistas.org/pt/mordomiacrista/proj...

[2] Para saber mais sobre o conceito de “pacto” (ofertas regulares e sistemáticas), acesse: https://stewardship.adventist.org/promise-offering...

[3] Para mais informações sobre o princípio bíblico da casa do Tesouro aplicado para fundos oriundos do dízimo e de outros recursos, veja, por exemplo, Dt 12:5-28; 14:22-29; 16:9-17; 18:1-8; 2Rs 18:4, 22; 2Cr 31; Ne 10:32-39; 12:44-47; 13:8-14; Ml 3:8-10; Mc 12:41-44; Lc 21:1-4; 1Co 9:3-14. No livro de Atos é possível ver a prática desse mesmo princípio, pois os crentes centralizavam seus recursos financeiros em um fundo comum e os distribuíam de forma equitativa, não segundo o critério de um indivíduo (ver At 2:44, 45; 4:32, 34-37; 5:1-11). No livro “Where Do We Bring Our Tithe? In Search for the Storehouse”, de Ed Reid, você poderá encontrar uma explicação clara desse princípio aplicado ao dízimo. Acesse https://stewardship.adventist.org/books e desça o cursor até encontrar as opções de ler ou de baixar este livro nos idiomas inglês ou francês.

Marcos Fayok Bomfim

Marcos Fayok Bomfim é diretor dos Ministérios de Mordomia da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, Silver Springs, Maryland, EUA.