Quando tentamos entender as ofertas, normalmente nos voltamos para o Pentateuco. Dificilmente consultamos os livros proféticos, com exceção de Malaquias. Neste estudo, vamos explorar os ensinos dos profetas sobre ofertas que não eram animais. Nosso interesse é atiçado pelo paralelo que existe entre nós e o antigo Israel. Os israelitas do Velho Testamento davam ofertas que não eram animais, a maioria notável dos produtos de suas colheitas. Nós damos ofertas dos nossos rendimentos. O estudo das práticas do antigo Israel podem derramar luz sobre a maneira como nós damos ofertas hoje.

Nem todos os profetas mencionam ofertas não animal. Somente sete deles o fazem:

Isaías (1:13; 18:7; 19:21; 43:23; 57:6; 66:3, 20), Jeremias (14:12; 17:26; 33:18; 41:5), Ezequiel (42:13; 44:29, 30; 45:1, 6, 7, 13, 15, 16, 17, 24, 25; 46:5, 7, 11, 14, 15, 20; 48:8, 9, 10, 12, 18, 20, 21), Joel (1:9, 13; 2:14), Amós (4:5; 5:22, 25), Sofonias (3:10), e Malaquias (1:10, 11, 13; 2:12, 13; 3:3, 4, 8). E nem todos os profetas os mencionam da mesma maneira e na mesma extensão. Sofonias tem apenas um verso, enquanto Ezequiel desenvolve extensivamente a noção de ofertas não animal. A apresentação que segue é uma breve exposição de temas recorrentes relacionados com ofertas que não eram animais nos livros proféticos do Velho Testamento.

Em Reconhecimento de Quem é Deus e quem somos nós

Quando os profetas falavam sobre ofertas não animal, eles acreditavam que tais ofertas eram trazidas em total reconhecimento da identidade e ações de Deus (Isa. 43:11): o eterno Criador (Isa. 40:28; 43:15; 44:24, 45:18); aquele que não muda (Mal. 3:6); aquele que ama constantemente (Isa. 43:4; Jer. 31:3; Ose. 3:1), provê (Jer. 33:9; Ezeq. 34:29), sustenta (Isa. 41:10), cuida (Zac. 10.3), ajuda (Isa. 41:13; Ose. 12:6), protege (Isa. 31:5; Zac. 9:15; 12:8), e é um refúgio (Isa. 26:4; 44:8; Naum 1:7); mas também aquele que convoca para o arrependimento e perdoa (Isa. 16, 17; Jer. 31:34; Ezeq. 14:6, 7; Sof. 3:15-18; Mal. 3:10-12), aquele que propõe mudanças e é capaz de transformar vidas humanas (Isa. 41:14; Jer. 30:17; Sof. 3:9, 19), aquele que julga (Mic. 5:6-8; Sof. 3:9, 11, 12, 15, 19, 20; Mal. 3:16-21).

Ofertas também revelam quem somos: seres humanos, criados, dependentes do Criador para a vida, subsistência, perdão, transformação, esperança e futuro. Não se pode escolher dar ofertas de todo coração se não se reconhece a necessidade do Senhor dos exércitos (Isa. 18:7).

Sendo assim, não deveria ser dada mecanicamente, mas sempre em completo reconhecimento do que Deus faz pela humanidade (Isa. 11:9; 18:7; 66:20; Jer. 17:26, 33:11; Zeph. 3:14).

Com gratidão, com alegria e como um ato de Comprometimento

Como foi mencionado acima, ofertas não animal deviam sempre der dadas como uma humilde expressão de nossa gratidão ao nosso Criador. Provedor e Senhor. Se não, Deus não aceita as ofertas (Jer. 14:12; Amos 5:22). Depois, as ofertas não têm o objetivo de ganhar o favor de Deus (Joel 2:14). Deus aprova quando elas são dadas humilde e livremente como adoração de acordo com o que ele exige (Jer. 4:1-3; Joel 1:14; 2:12, 13). Ele é o único que decide quando e como abençoará seu fiel adorador. Mas ele promete não deixar seu adorador sem sustento e bênção (Mal. 3:10-12). Deus ama um doador alegre e contente. Um adorador fiel reconhece que Deus sempre dá coisas que ele nunca será capaz de retribuir. Jeremias destaca três razões para uma doação alegre de ofertas: (1) Ele é o “Senhor dos exércitos”, (2) a bondade de Deus e seu amor duradouro”, (3) a restauração das “fortunas da terra como no princípio” (Jer. 33:11). *Ofertas não devem ser limitadas a doações monetárias. Elas podem ser de propriedade, tempo, trabalho ou nós mesmos (Ezeq. 45:1, 13-16; 48:18, 19). Finalmente, ofertas é um dos meios providenciado por Deus para o escolhermos, reconhecê-lo como o primeiro em nossa vida e manter com ele uma relação duradoura (Isa. 43:10; 44:6, 8; 45:9; Jer. 24:7; 30:22; Ezeq. 20:40; Zac. 8:8; Joel 2:27; 3:17; Mal. 3:16-18). Os profetas predisseram que os povos das extremidades da terra viriam adorar a Deus (Isa. 18:7; 60:4, 6, 7Sof. 3:10; Zac. 14:16, 17; Mal. 1:11). E vindos de longe, viajando vários dias e até semanas, eles demonstrariam que estavam dispostos a deixar tudo para trás para se encontrar com Deus. Uma vez que o Senhor dos exércitos sempre cuida, provê e sustenta, como filhos de Deus nós devemos aprender, a receber, a experimentar a relação de amor, de cuidado, de salvação e de soberania de Deus. Unicamente através dessa espécie de relação amorosa pode ele nos ajudar a aprender a adorá-lo correta e completamente. Enquanto o adoramos, nós escolhemos trazer uma parte de nós mesmos (o melhor) ao nosso Senhor e Redentor.

Sistemática, Proporcional e em um Local Definido

Eventos espirituais como o sábado, uma lua nova, festivais judaicos e qualquer outro ajuntamento (Isa. 1:13, 14; Ezek. 44:24; 45:17; 46:3; Amós 5:21; 8:5, 10), forneciam oportunidades para os israelitas fazerem sacrifícios, devolver o dízimo e dar ofertas de cereal (Heb.: minḥāh) (Isa. 1:13; Jer. 14:12; 41:5; Amós 5:22, 25; Mal. 1:10, 11, 13), inclusive o melhor incenso (Jer. 6:20). Isto demonstra que eles sabiam o que a lei exigia deles para Deus. A devolução dos dízimos e a entrega das ofertas eram significativas para agradecer a Deus pelas bênçãos acrescidas. Era regular e sistemática porque o povo sabia que não deveriam se achegar a Deus de mãos vazias. Alguns se sentiam tão abençoados que eles traziam ofertas voluntárias extras para Deus (Heb.: nəḏāḇāh) (Amós 4:4, 5; 5:22, 23). Isso pode sugerir que eles davam algo mais além dos dízimos e das ofertas regulares. Ezequiel predisse um tempo de restauração no qual tudo seria renovado através da presença do Senhor. A descrição compreensiva da Nova Jerusalém e seu futuro templo e serviços é de particular interesse (Ezeq. 40-48). Alguma coisa nova será exigida do povo. Haverá uma porção de terra para o príncipe (Ezeq. 45:7, 8), o “pastor” do povo de Deus (Ezeq. 34:23, 24). Separado da parte dos sacerdotes (Ezeq. 44:29, 30), todo o povo fará ofertas ao príncipe e aos seus descendentes (Heb.: ṯərûmāh) calculados em termos de proporção: mais ou menos 1/60 para cereais, 1/100 para azeite, e 1/200 para ovelhas (Ezeq. 45:13-16). No entanto, parece que tais ofertas ou taxas não eram para o sustento do príncipe. Em troca Deus dá ao príncipe a responsabilidade de “fornecer ofertas queimadas, ofertas de grãos e ofertas de líquidos nas festas, nas luas novas e nos sábados, todas as festas apontadas para a casa de Israel. Ele proverá a oferta pelo pecado, oferta de grãos, ofertas queimadas e ofertas de paz, para fazer expiação a favor da casa de Israel (verso 17). Desde então, essa oferta proporcional será para Deus (verso 15). Deus exigirá do príncipe, para cada festa apontada, uma soma exata de ofertas (Ezeq. 45:18-46:18), e às vezes tanto quanto ele fosse capaz (Ezeq. 46:5, 7). Seria o dever do príncipe providenciar as ofertas de grãos (Heb.: minḥāh) para o povo. Esta passagem de Ezequiel sugere que ofertas não deveriam apenas ser dadas voluntárias e de todo coração do que podemos oferecer, mas também uma porcentagem de nossa renda (Ezeq. 45:13-16).

Os profetas não definiram uma porcentagem fixa para as ofertas como fizeram para o dízimo, mas antes, essa porcentagem deve ser decidida pelo doador. Além disso, como no tempo de Joel, quando nós enfrentamos dificuldades econômicas e financeiras nós podemos confabular que ofertas podem ser dadas. Se nossa situação econômica sobe ou desce, uma porcentagem sistemática de nossa renda por nós escolhida pode certamente ajudar a decidir o que dar ao Senhor. Ao trazer fielmente essa porcentagem de nossa renda por nós escolhida, podemos continuar provendo e fazendo nossa parte de uma maneira (muito) pequena ou grande para a casa de Deus ajudar no avanço da obra de Deus (Joel 1:9,13). Os profetas posteriores esclarecem que se as ofertas devem ser dadas a Deus, tais ofertas não são para o sustento de Deus. Mas elas devem ser dadas para sua casa (Isa. 18:7; Jer. 17:26; 33:11; Ezeq. 42:13; Joel 1:9, 13, 14; 2:17; Mal. 1:7; 2:13; 3:10) para seu serviço e para o sustento dos sacerdotes, aqueles que foram divinamente apontados para servir completamente em sua obra (Jer. 33:18; Ezeq. 44:29, 30; Joel 1:9, 16, 17). Deve sempre servir para o avanço e a causa de Deus. Em troca, é responsabilidade do sacerdote sempre aprender, ensinar lembrar o povo de Deus sobre quem é Deus e os seu requisitos (Ezeq. 22:26; 44:15, 16, 23, 24; Mic. 3:11; Mal. 2:8, 9).

Motivos errados para dar

Havia, no entanto, alguns problemas com o caráter sistemático de ofertas não animais (Heb.: minḥāh): Os profetas repetidamente diziam ao povo que Deus não queria suas ofertas de grãos. A razão principal era seu formalismo ao dar ofertas (Isa. 1:11; 66:3, 4; Jer. 14:12; Amós 8:5; Mal. 2:11, 15), sua apatia espiritual e o sincretismo (Isa. 43:22-24; Sof. 1:5). Muitas vezes o povo dava a quantidade requerida, mas esquecia do seu propósito e traziam ofertas poluídas (Mal. 1:7). Pareciam até ter trazido tais ofertas com desprezo (Mal. 1:10, 13, 14). Eles davam e traziam suas ofertas de grãos como agradecimento a Deus pelas suas bênçãos. No entanto, essas ofertas eram o resultado de injustiça social e do abuso do pobre (Isa. 1:17, 23; 5:7; 66:3; Jer. 22:13-17; Amós 2:6-8; 5:11, 24; 8:4- 6; Sof. 3:1; Mal. 3:5). Deus condenava o coração de seu povo como dividido, insincero ou que buscava seu próprio interesse. Algumas outras vezes, os profetas reprovavam o povo pela ausência de ofertas. O povo se apropriava das ofertas de Deus inclusive com a ajuda de sacerdotes corruptos (Ezeq. 22:23-31; Sof. 3:3, 4; Mal. 1:8). Eles usavam-nas para seu próprio interesse, família ou negócios, (Amós 8:5), ou até para oferecer aos ídolos (Jer. 7:30, 31; 16:11; 18:15; 32:29; 44:2, 8, 17, 18; Ezeq. 7:20; 8:3; Amós 2:8; Sof. 1:4-6). A idolatria era, portanto, sistematicamente condenada pelos profetas. Quando uma oferta não animal era dada a Deus não sendo sincera, ou era dada enquanto exploravam os mais fracos, ou até dada para alguma outra coisa que não fosse o próprio Deus, os profetas acusavam o povo de que eles realmente não conheciam a Deus. Eles destacaram o quanto as pessoas desconfiavam de Deus, menosprezavam o sustento de Deus por elas e não tinham confiança na providência futura de Deus. (Isa. 43:11; Jer. 6:12-19; Mal. 1:2-5).

Uma ordem duradoura

Muitos profetas predisseram um tempo de restauração e renovação promovido por Deus entre seu povo. O povo de Deus transformado (da linhagem de Israel ou pela adoção, conf. Isa. 18:7; 19:21; 45:14; 56:7; 60:7) escolheria voltar para ele como seu único Deus pessoal. Assim, eles voluntariamente trariam para Ele como ofertas o melhor daquilo que tinham (Heb.: minḥāh) (Isa. 19:21; 45:14; 56:7; 60:7; Ezeq. 44:29; Sof. 3:10; Mal. 3:3, 4), como tributo (Heb.: shay) (Isa. 18:7), como ofertas de ação de graças (Heb.: ṯôḏāh) (Jer. 17:26; 33:11), como produto dos primeiros frutos (Heb.: bikkûrîm), e como contribuições ou como ofertas alçadas [Heb.: ṯərûmāh) (Ezeq. 44:30).

Conclusão

O Senhor dos exércitos confia aos seres humanos diferentes espécies de posses: riqueza, propriedades, tempo, inclusive a própria vida. Tudo que temos e somos não são nossos, mas graciosamente providos por Deus. Os profetas nos lembram, como mordomos, que devemos usar tudo para a honra de Deus. Além disso, ofertas não são apenas uma exigência de Deus. Elas são a expressão externa de um coração agradecido, sincero, baseado numa escolha voluntária de relacionamento com o Criador

* Citações das escrituras são da versão Almeida Revista e Atualizada. Usadacom permissão. Todos os Direitos Reservados.

Edwin Sully Payet

Edwin Sully Payet, PhD, serve como palestrante no departamento de teologia no Université Adventiste Zurcher, Madagascar.