E também será como um homem que, ao sair de viagem, chamou seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e a outro um; a cada um de acordo com a sua capacidade. Em seguida partiu de viagem. O que havia recebido cinco talentos saiu imediatamente, aplicou-os, e ganhou mais cinco. Também o que tinha dois talentos ganhou mais dois. Mas o que tinha recebido um talento saiu, cavou um buraco no chão e escondeu o dinheiro. . . . O senhor respondeu: . . ‘Então você devia ter confiado o meu dinheiro aos banqueiros, para que, quando eu voltasse, o recebesse de volta com juros’” (Mt. 25:14-26, NVI).

Essa parábola capta a essência da mordomia: a gestão rentável e fiel dos talentos e recursos que nos foram confiados. A partir da leitura da Bíblia, fica claro que o empréstimo de dinheiro por juros era uma prática comum nos tempos antigos. A Bíblia fornece várias lições sobre a temática de juros. É esperado de nós administrar os recursos sabiamente (investir com o objetivo de gerar juros, evitar a coleta injusta de juros dos pobres e necessitados, e evitar pagar juros desnecessários ao evitar uma dívida).

O artigo do último trimestre focou em sair da dívida usando 1 Reis como exemplo prático. Dívida e juros são temas altamente interligados. Neste trimestre vamos compartilhar alguns conceitos básicos que ajudarão a aumentar a sua educação financeira em relação aos juros. Concordamos que “no atual ambiente econômico de baixas taxas de juros e baixo crescimento, [...] é importante que todos tenham o conhecimento, habilidades e atitudes para melhorar seus resultados financeiros e bem-estar.”1

A EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Como porta de entrada para o assunto, seria apropriado liderar os membros da igreja em uma avaliação de sua educação financeira básica. Foi estabelecido que a educação financeira tem uma influência direta no bem-estar financeiro de um indivíduo.2

De acordo com Stolper e Walter,3 há três questões amplamente aceitas como os “Três Grandes” indicadores da educação financeira. A seguir, apresentaremos duas destas questões, que podem ser utilizadas como autoavaliação:

1. Suponha que você tinha $ 100 dólares em uma conta poupança e a taxa de juros seja de 2% por ano. Depois de cinco anos, quanto você acredita que teria ao deixar o dinheiro rendendo nessa conta? A resposta é:

l Mais de $ 102 dólares.

l Exatamente $ 102 dólares.

l Menos de $ 102 dólares.

l Não sei.

2. Imagine que a taxa de juros na sua conta poupança era de 1% ao ano e a inflação era de 2% ao ano. Depois de um ano, você seria capaz de comprar:

l mais,

l exatamente o mesmo, ou

l menos do que você poderia comprar hoje com o dinheiro nessa conta?

l Não sei.4

Nós escolhemos estas duas perguntas porque, de acordo com Stolper e Walter, 5 indivíduos que não podem responder a ambas as perguntas são susceptíveis de tomar decisões financeiras que não são adequadas. Se sentir que falhou no teste, continue a leitura! Este artigo o(a) ajudará a aumentar o seu conhecimento em juros.

De acordo com dados de uma pesquisa realizada pela Rede Internacional de Educação Financeira da OCDE, muitas pessoas não têm um conhecimento sólido em juros e possuem dificuldade em aplicar conceitos básicos de taxa e juros quando tomam decisões financeiras.6 Os resultados da pesquisa são significativos, pois representam resultados de dados coletados de 30 países, abrangendo “África, Ásia, Europa, Austrália, América do Norte e América do Sul.”7

UM GLOSSÁRIO ÚTIL

O significado de várias expressões relacionadas a juros em documentos especializados e promocionais não é claro para muitos indivíduos. Consequentemente, são ignorados elementos importantes, o que resulta em más decisões.

O QUE SÃO JUROS?

Basicamente, os juros representam o custo do empréstimo de dinheiro; para um credor representa a renda gerada pelo empréstimo de dinheiro. Os juros tem muitas facetas, e vamos revelar algumas delas.

JUROS FIXOS VS JUROS VARIÁVEIS

As taxas de juro podem ser fixas ou variáveis. Uma taxa fixa é fixada ao longo da duração do empréstimo ou do investimento. Uma hipoteca com uma taxa fixa de 5% ao longo de um prazo de cinco anos, significa que a taxa de juro será sempre calculada sobre o saldo pendente a uma taxa de 5%. Uma hipoteca com uma taxa variável é cotada como prêmio ou desconto de uma taxa estabelecida, como a taxa primária de um credor. Como exemplo, a taxa de prêmio ou desconto permanece estática (não muda); no entanto, a taxa primária pode e geralmente flutua, resultando em taxas variáveis. A escolha de selecionar uma taxa variável versus taxa fixa não é fácil e é influenciada por muitas coisas, incluindo a capacidade de um indivíduo aceitar o risco e os pagamentos flutuantes.

JUROS NOMINAIS VS REAIS

A taxa de juro nominal refere-se à taxa de juros anunciada. Se durante o ano um investimento gerou juros de 5%, os 5% são referidos como a taxa nominal. Esta taxa pode ser traiçoeira porque não é a taxa de juro real. A taxa de juro real vigora na chamada taxa de inflação. No nosso exemplo, se a inflação durante o ano for de 2%, a taxa de juro real é de apenas 3%. A maior parte das economias mundiais têm metas de inflação e, em geral, reconhecem que, ao longo do tempo, devemos experimentar algum nível de inflação. Inflação, de acordo com Webster's New World Dictionary é “um aumento na quantidade de dinheiro em circulação resultando [...] na queda do seu valor e no aumento dos preços.”8 Todos concordamos que um dólar hoje compra muito menos do que há 20 anos. Portanto podemos dizer que o valor - ou o poder de compra - do dinheiro diminuiu ao longo do tempo. Este conceito é extremamente importante quando se trata de gerir os investimentos e planos de aposentadoria.

JUROS SIMPLES VS JUROS COMPOSTOS

Os juros simples referem-se ao cálculo dos juros baseados apenas no capital. Por outro lado, os juros compostos são calculados sobre o capital, acrescidos de juros. Antes de assinar um contrato que implica juros, é importante que você entenda se a taxa de juro será composta ou baseada na taxa de juro simples. Os juros compostos são uma faca de dois gumes. Funciona a seu favor se você é um investidor ao ganhar juros sobre os juros. No entanto, se você é o devedor, isso pode prejudicá-lo financeiramente, especialmente se você não puder arcar com os pagamentos que cubram totalmente os encargos dos juros. Você vai acabar pagando juros acima de juros.

O QUE DEUS ESPERA DE NÓS?

A Bíblia reconhece o lado negativo dos juros e como este custo atua como um obstáculo para sair da dívida. Há inúmeros versículos, incluindo Êxodo 22:25, Deuteronômio 23:19, 20 e Provérbios 28:8 que proíbem a cobrança de juros a indivíduos pobres.

Por outro lado, há um reconhecimento do juros como uma via para o crescimento da riqueza. Na história do mestre que deu talentos a seus trabalhadores, o mestre diz que aquele com apenas um talento poderia ter pelo menos investido para ganhar juros (Mt. 25:27). Há também a expectativa de que um sábio mordomo não apenas deixará o dinheiro no banco, mas procurará caminhos inteligentes para investir e gerar juros.

Finalmente! Esperamos que a leitura deste artigo o(a) tenha munido para compartilhar sobre a multifacetada natureza dos juros. A correta compreensão do tema é crucial para a educação financeira e para o exercício adequado da mordomia de nossos recursos fornecidos por Deus. Pesquisas mostram que o aumento do conhecimento financeiro resulta na redução da pobreza e no aumento da riqueza.9 Por que não fazer um compromisso hoje para investir em mais conhecimento sobre este assunto para si mesmo e em benefício da comunidade?£

Jenifer Chitate

  1. OECD (2016), OECD/INFE International survey of adult Financial Literacy competencies, Paris: OECD, p. 59.
  2. M. Khalil (2020), “Financial citizenship as a broader democratic context of financial literacy,” Citizenship, Social and Economics Education, pp. 1-14.
  3. O. A. Stolper and A. Walter (2017), “Financial literacy, financial advice, and financial behavior,” Journal of Business Economics, pp. 581-643.
  4. O. A. Stolper and A. Walter (2017), Financial literacy, financial advice, and financial behavior,” Journal of Business Economics, p. 590.
  5. O. A. Stolper and A. Walter (2017), “Financial literacy, financial advice, and financial behavior,” Journal of Business Economics, pp. 581-643.
  6. OECD (2016), OECD/INFE International survey of adult Financial Literacy competencies, Paris: OECD
  7. Ibid., p. 3.
  8. Simon and Schuster (1980), Webster's New World Dictionary, New York: New World Dictionaries/ SImon and Schuster, p. 722.
  9. M. Khalil (2020), “Financial citizenship as a broader democratic context of financial literacy,” Citizenship, Social and Economics Education, pp. 1-14.


Jenipher Chitate