Às oito horas da noite de sábado, dia 14 de março de 2020, o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, deu uma entrevista coletiva anunciando que, por causa da pandemia Covid-19, todos os estabelecimentos que não fossem absolutamente vitais para a vida do país seriam fechados até novo aviso. O confinamento total começaria três dias depois, na quarta-feira, dia 18 de março, à meia-noite. O “até novo aviso” acabou virando 10 de maio – quase dois meses de confinamento total!

Duas semanas antes, no dia 5 de março de 2020, minha esposa voou para Madagascar para visitar nosso filho, que trabalha para a ADRA naquele país. O plano era que ela ficasse ali por um mês. No entanto, fomos informados de que o último voo regular de Antananarivo (Madagascar) para Paris, pouco antes do bloqueio total na França, deveria partir na terça-feira, dia 17 de março. Imediatamente, pedi para a minha esposa que fizesse reserva naquele último voo. O primeiro milagre aconteceu: ela conseguiu um lugar sem ter que pagar nenhuma taxa extra pela mudança de data.

Às seis da manhã de quarta-feira, dia 18 de março, fui até o aeroporto Roissy Charles de Gaulle para recebê-la, com todo o país em confinamento desde a meia-noite. Pela graça de Deus, chegamos antes do meio dia a nossa casa em Rouen, no noroeste da França, a 160 quilômetros do aeroporto parisiense. Este é o lado familiar da história.

Perguntas, promessa e respostas

Como pastor distrital, eu me preocupava com muitas coisas sobre o funcionamento e a manutenção das minhas três igrejas durante aquele confinamento de dois meses.

Como todos sabemos, foi a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que um confinamento como esse foi imposto na França. Isso significava nada de Escola Sabatina ou culto divino nas igrejas, nada de classes batismais para aqueles que se preparavam para o batismo, nada de estudos bíblicos para as pessoas em suas casas e nada de trabalho missionário fora das igrejas. Nossa Associação do Norte da França teve que cancelar quase 50 das reuniões evangelísticas Hope 2020, incluindo a que estava programada para a igreja de Rouen durante o mês de maio de 2020.

Muitas outras perguntas vinham à minha mente: como visitar os membros da igreja em suas casas, como arrecadar os dízimos e as ofertas, e muito mais. Em resumo, como viver como igreja em meio a um confinamento total?

Em resposta a todas essas perguntas, um texto bíblico me veio à mente: “Isaque rompeu o silêncio e disse a Abraão, seu pai: — Meu pai! Abraão respondeu: — Eis-me aqui, meu filho! Isaque perguntou: — Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? Abraão respondeu: — Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho” (Gn 22:7, 8).

Mais perguntas inundavam a minha mente: Se os membros da igreja não pudessem trazer suas ofertas para as igrejas durante esse tempo tão prolongado, como poderíamos pagar as contas de água, energia elétrica, etc.? Se os membros não pudessem trazer seus dízimos para suas igrejas locais, o que aconteceria com as finanças das Associações, Uniões e da Associação Geral?

Para todas essas perguntas, e para muitas outras mais, a resposta dada por Abraão ao seu filho, Isaque, vem incessantemente à minha mente: “Deus proverá para Si . . .”

A essa altura você já deve ter adivinhado – ou já deve saber – o que aconteceu durante o confinamento. Organizamos nossas reuniões da igreja (Escola Sabatina e culto divino, reuniões de oração, comissão da igreja, estudos bíblicos para os jovens, etc.) via Zoom, assim como fizeram milhares de igrejas em todo o mundo.

Com relação aos dízimos e ofertas, continuamos a incentivar os membros da igreja a serem fiéis, apesar da situação desafiadora e única de perda de emprego, dificuldades financeiras para estudantes universitários (entre outros), e assim por diante. A lista de situações desafiadoras é, infelizmente, muito longa.

Então, que medidas concretas tomamos para incentivar os membros da nossa igreja a serem fiéis em meio à essa crise sanitária? O departamento de comunicação de cada igreja preparou slides apropriados para, na hora dos anúncios, lembrar sistematicamente os membros quanto aos procedimentos a serem adotados para enviar dízimos e ofertas por transferência bancária. Para os dízimos, nossa conferência implementou uma plataforma digital, a “HelloAsso”, mediante a qual todas as igrejas da França podem transferir fundos diretamente para a tesouraria da Associação. Dois outros métodos foram utilizados: (1) alguns membros da igreja que moravam perto dos seus tesoureiros levavam os seus dízimos e ofertas diretamente para eles; e (2) o pastor, acompanhado de alguns anciãos, visitaria os membros idosos que moravam longe da igreja para coletar esses os fundos diretamente com eles.

Vale notar que, durante o confinamento, foi uma bênção para os membros e para mim estarmos conectados uns aos outros pelo telefone. Alguns dias durante a semana, pude falar e orar com mais de 30 pessoas e famílias. Você provavelmente pode imaginar que algumas pessoas se sentiram bastante solitárias durante essa crise sanitária, e um telefonema nessas circunstâncias era um sopro de ar fresco. Chamadas telefônicas, chamadas pelo Messenger, Facetime e Skype foram muito úteis para mantermos o contato com os membros da igreja a fim de animá-los.

A lição

A despeito dessa situação catastrófica, uma coisa é certa: “Deus proveu para Si.” Na verdade, em todas as três igrejas sob minha responsabilidade, os membros permaneceram fiéis, pela graça de Deus. Quando perguntei ao tesoureiro de uma de nossas igrejas sobre a situação das finanças da igreja frente à pandemia e o confinamento, ela respondeu: “Pastor, a situação estava realmente difícil – para não dizer catastrófica – em abril e maio. Mas, a partir de junho, o cenário mudou inesperadamente”. A maioria dos membros da igreja permaneceu fiel. No que diz respeito às finanças da igreja, ficou muito claro que Deus “proveu para Si mesmo”. Ele sempre foi fiel. E, sem entrar em maiores detalhes, em todas as nossas igrejas e também na nossa Associação, “Deus proveu para si mesmo” quando, tal como Abraão e Isaque, nossos membros também depositaram sua confiança em Deus em meio a essa crise sem precedentes.

Aqui estão alguns números que mostram o quanto o Senhor nos abençoou, apesar da pandemia e do confinamento:

Dízimo total em 2019: 152.260 Euros

Dízimo total em 2020: 135.060 Euros

Dízimos de janeiro a junho de 2021: 84.110 Euros

Alguns membros da igreja enviaram o dízimo de 2020 em janeiro de 2021. Mas, embora tenha ocorrido uma diminuição no valor total dos dízimos em 2020, os membros da nossa igreja permaneceram fiéis, apesar dos muitos desafios enfrentados durante esse ano.

Ainda hoje, em junho de 2021, um ano após o primeiro confinamento, o Covid-19 ainda não ficou para trás. Nossa igreja ainda está funcionando em regime de semi-confinamento. No próximo sábado, os membros da igreja deverão se cadastrar no início da semana para poderem ir à igreja. Quando o número máximo for atingido, ninguém mais poderá ser cadastrado. Cerca de um terço do número total de membros da igreja está autorizado a estar presente em um determinado sábado. Os outros dois terços assistem aos programas pelo Zoom. Mas confio nestas palavras de Abraão: “Deus proverá para Si o cordeiro para holocausto”.

Como e quando essa pandemia chegará ao fim? Ninguém consegue dar uma resposta! Mas temos esta garantia: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, [...] nem as coisas do presente, [...] [poderão] nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8:38,39).



Samuel Ravonjiarivelo

Samuel Ravonjiarivelo é pastor distrital das igrejas de Rouen, Dieppe e Mantes-La-Jolie, na Associação do Norte da França.